Mão de obra, inteligência analítica, investimentos e mais: estudo da FGVCia apresenta o cenário do setor para empresas e cidadãos brasileiros.
Do total de empresas instaladas no Brasil, 87,5% realizaram alguma iniciativa voltada à transformação digital no ano passado, segundo dados do DT Index 2020 (Índice de Transformação Digital da Dell Technologies 2020). O número ficou acima da média mundial, de 80%.
Diante dos desafios impostos pelo distanciamento social e a massificação do trabalho remoto, muitas empresas se viram obrigadas a adequar as operações para se manterem competitivas no mercado. Nesse sentido, o investimento rápido e estratégico em infraestrutura de TI entrou como aliado para enfrentar com sucesso a realidade imposta pela Covid-19.
Em 2021, o cenário não será muito diferente. O Brasil deve ultrapassar a marca de 200 milhões de computadores em uso ainda este ano, segundo a 32º Pesquisa Anual do Uso de TI no Brasil realizada pelo FGVcia (Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas). Isso significa que teremos cerca de 9,4 máquinas para cada 10 habitantes.
“O que mais chamou a atenção nesta edição foi o impacto da pandemia, que provocou, em meses, um avanço no uso de TI que normalmente levaria anos para ocorrer”, afirma Fernando S. Meirelles, coordenador do estudo e fundador do FGVCia.
O estudo considerou 2.636 companhias, com o intuito de formar uma amostra representativa das médias e grandes empresas nacionais de capital privado. O relatório contempla a evolução e as tendências de indicadores, como a quantidade de dispositivos digitais; o volume de vendas de computadores, tablets, telefones e TVs no Brasil e mundo; os gastos e investimentos em TI; e um retrato do mercado de 26 categorias de software, incluindo videoconferência, inteligência analítica e sistemas integrados de gestão. A pesquisa indica que 66% das 500 maiores empresas do país estão na amostra.
Um computador por habitante até 2023
O relatório indica que temos hoje 440 milhões de dispositivos digitais (computadores, notebooks, tablets e smartphones) em uso no Brasil, o que representa mais de dois dispositivos digitais por habitante.
Do total, o país tem cerca de 198 milhões de computadores (desktops, notebooks e tablets) em uso, número que deve saltar para 200 milhões até o final do ano. Ou seja, são 9,4 máquinas para cada 10 habitantes (94% per capita).
Isso coloca o país atrás dos Estados Unidos (69%), mas bem acima da média mundial de 82% na proporção de computadores em uso por habitante. “O Brasil está muito bem no cenário mundial. No entanto, se compararmos com os países mais desenvolvidos, ainda temos espaço para crescer”, afirma Meirelles.
Entre 2022 e 2023, a expectativa é que o Brasil tenha 216 milhões de máquinas em uso, número que deve ser equivalente aos 216 milhões de habitantes da população brasileira no mesmo período. “Ou seja, em cerca de um ano e meio, vamos atingir a proporção de um computador por habitante na média no Brasil.”
Sistema operacional, videoconferência e antivírus
A pesquisa aponta uma participação de 97% do Windows como o principal sistema operacional ativo no computador do usuário, ante 2% de Unix e família e 1% de outros sistemas. No caso dos servidores corporativos, o cenário muda. São 77% da base instalada utilizando Windows, seguido de Linux (18%) e outros sistemas (5%), que englobam Unix e Apple.
Segundo Meirelles, “a categoria de colaboração e videoconferência é a que mais cresceu no último ano”. Nesse caso, o levantamento apresenta o Zoom como o grande líder do setor, com cerca de 40% de participação nas empresas. A lista também inclui o Microsoft Teams (32%), Google Meets (18%) e outros recursos (10%).
Em relação aos programas de antivírus, desenvolvidos para prevenir, detectar e eliminar softwares maliciosos, seis nomes se destacaram. A liderança ficou por conta do Intel McAfee, com 29%, seguido do Symantec, com 28%. O ranking conta ainda com os produtos da Microsoft (12%), Kaspersky (10%), Avast e AVG (9%), Trend (8%), e outros (4%).
Internet e inteligência analítica
A FGVCia analisou também quais são os navegadores mais utilizados pelas empresas. Os resultados apontam uma participação de 62% do Microsoft Edge e Explorer, 30% do Google Chrome, 7% do Mozilla FireFox e 1% de outros produtos, como o Safari, desenvolvido pela Apple. “No uso doméstico, o Safari cresce muito, assim como o Chrome.”
Já a categoria de inteligência analítica engloba todos os produtos de business intelligence (inteligência empresarial), business analytics (análise de negócios), CRM (Gestão de Relacionamento com o Cliente, da sigla em inglês) e os sistemas de apoio ao executivo. Nesse caso, a SAP, especializada em softwares corporativos, assume o primeiro lugar com 25% de participação nas empresas. As companhias utilizam, ainda, os produtos da Oracle (16%), Totvs (15%), Microsoft (15%), Qlik (15%) e IBM (9%). “É importante ressaltar que, se considerarmos o departamento financeiro das empresas, quem aparece na frente disparado é o Excel como a ferramenta principal”, aponta Meirelles.
Gastos e investimentos
A pesquisa revela que, em 1992, as empresas gastavam, em média, cerca de 2% da receita com tecnologia. Hoje, esse número é de 8,2%, o que indica um investimento crescente das companhias em ferramentas e serviços de TI.
A tendência é que esse número se aproxime de 9% nos próximos anos, e continue a crescer. “A velocidade dessa ampliação depende do comportamento da economia”, argumenta Meirelles.
Ao olhar especificamente para cada setor da economia, os bancos e serviços aparecem acima da média em termos de gastos com tecnologia, com 16% e 11,7% da receita direcionada aos investimentos em TI, respectivamente. Já a indústria aparece com 4,8%, enquanto o comércio investe apenas 3,9%.
O que esperar
Os dados da FGVCia apontam que, para as empresas, os principais projetos de TI para os próximos anos são a implementação de inteligência analytics e a migração, implementação e integração de funcionalidades do ERP (Sistema Integrado de Gestão).
No caso das grandes empresas, a pesquisa revela uma tendência à escassez de mão de obra e, consequentemente, aumento da busca por novos talentos. O relatório projeta também uma crescente nos projetos de governança de TI, inteligência artificial, IoT (Internet das Coisas) e migração para a nuvem.
O estudo indica que, nestas empresas, o foco está em alinhar estrategicamente as ações, investimentos e a transformação digital.
Matéria: forbes.com.br